16 de janeiro de 2023

Cena

O estômago me afronta

A noite adentra

Ou talvez o dia

Entranha sedenta

Que desassossega

E disassocia

Sangue e lágrima

Que verte e silencia 


O palato se encolhe 

Antebraço queima

Meu peito em ruínas

Que a mente escolhe

E o pulso desafina

O olho teima

A bacia treme

O olho titubeia

Quadrado ou frame

A cena é a mesma

Hades anseia

A figura arqueia

No peso do mar

Se morre a sereia


O chão que falta

O ar não passeia 

Doses de pulsão

Que a raiva despenteia

No centro do universo

A dor em reconvexo

Buraco de bala no plexo

Destrói cada verso

Cada carta, pauta

Sobra a falta

Sobra a raiva

A dor na cervical 

O cordão umbilical 

O nojo intestinal 

A mudez verbal 


A língua dormente

E o dedo que formiga 

Se unem no vacilo

Para um último estribilho 

A força é de quem sente

A realidade é amiga

Abra os olhos e siga

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