Todo dia uma vela
Uma mão que vai à guelaE puxa das vísceras
Uma verdade que escapa
Pra vencer essa névoa
Pra subir essa escarpa
Uma outra persona
Que eu nem vejo
Não acorda ou sonha
Não sinto ou creio
Mas me envereda
Me rodeia, peneira
Lobisomen, lua cheia
Banho de erva daninha
Que me sufoca e anseia
Racha a quartinha
Que se dane esse dano
Me despedaça e macera
Folha de louro seca
Alecrim que não tempera
Não salva nem espera
E da têmpora escorre
A euforia da sombra
A cantoria do samba
A pulsão e o tesão
A navegação de Teseu
O que nem vive ou morre
Afunilando a tristeza
Incerteza de céu aberto
De peito farto e certo
Acerta a veia e jorra
O pouco do ouro do outro
Que pedra é essa?
Que pele habito?
Não sei se vou ou fico
Como convencer o sol
De outra volta
Como convencer a mim
De outra nota
Se prende, se solta
E mesmo cavando
Não tem raiz, não tem fim
Tem um palco de giz
Um pouco de sim
Mas nunca completo
Ou de verdade
Ou sem afeto
E repete que pode
Que sabe, que é
E mente, convence
E desaba em pé
Porque toda hora é hora
Todo dia é dia
Todo canto é reza
Toda vela, magia
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