Tantos pensamentos soltos. Tantas palavras que ensaiam e se atrapalham ao serem proferidas, e, no entanto, nenhuma é. E nesse ensaio retórico, a vida se encaixa. Ora, ela é igual às palavras. Ensaia, ensaia, ensaia e, na hora, não diz nada. Mas mesmo sem dizer nada a vida segue adiante e às vezes é nesse silêncio que ela se resolve. E aquilo que ela vinha ensaiando por muito tempo acontece. Não da maneira que ela tinha planejado, não. Nunca ela faria isso. Nunca a vida se apresentou da maneira que ela foi ensaiada. Ela não possui a mesma obrigação de uma bailarina. Enquanto a bailarina busca a perfeição e somente isso, a vida vai no sentido contrário. A perfeição aqui não faz sentido, não apresenta um belo espetáculo.
O erro constrói a vida. Porém, quem sabe ao certo o que é o errado. Para os materialistas-existencialistas, ele não existe, uma vez que não pode ser tateado. Para os filósofos, ele pode desvendar o funcionamento da mente, mas mesmo assim ele não se explica. Para a bailarina... Ele é seu pior inimigo. Ela o encara e acredita que pode sim ser tateado, e principalmente sentido. E com razão acha que ele não deveria existir. Só assim ela alcançaria a perfeição que a vida não lhe oferece. A diferença se encontra no final, seja do espetáculo geral, seja de um ato apenas. No final, a bailarina que não erra, ainda acha que não atingiu a perfeição e tentará pelo resto de suas apresentações encontrá-la. Em vão.
A vida ou parte dela encontra sem querer uma bizarra perfeição em que o importante é saber que, certo ou não (se é que o certo e o errado existem), o final acontece. Será totalmente diferente daquilo que estava ensaiado e deixará um vazio, um sentimento de que você, não alcançou a perfeição.
“... - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."
("Pneumotórax" - Manuel Bandeira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário