Há esse caminho que dentre todos te deixa á mercê. E esses dias que não aparentam cessar enquanto bater todas as asas invisíveis. Uma hora, um dia, o giz se apaga com o vento e o pó desenha outro moinho.
Tem esse carro abandonado, que ninguém jamais ousou viajar. Nem meus pensamentos quiseram ir tão longe. Nem meus dedos quiseram resvalar minhas dores. Aonde tudo isso vai parar? Tem também ainda um pedaço de chão guardado no freezer que ninguém se apetece. Deve ser porque está tão escuro quando fecho os olhos.
Eu possuo um prisma que guarda um tico de luz. E de tão translúcido se perdeu na minha mão como se os meus dedos pudessem segurar meus dias. Porém quando penso em mim, devaneio. Não há algo que seja tão concreto quanto o nada, que se faz meu. É uma falta de matéria que se perpetua toda vez que pisco. Imensurável.
Das chances, são todas usadas, não há nada que seja tão original quanto o ontem. Quanto uma memória que se perde se não contada. Quanto um dia que de tão bom fica ruim ao amanhecer de novo. E toda madrugada se reitera uma ânsia de não me querer mais.
Dá pra sentir do porto os marinheiros que ficaram em passeio no céu. Que ficaram buscando o que há de novo em minhas imagens batidas. E eu, cansado de procurar vaguei em tudo, perpetuando uma jornada esférica sem cor. Um bambolê inodoro. Que ninguém ouve quando torna ao chão. Quando senta e chora desabafando um acorde da noite. Que de tão vácuo ficou oco só de me sentir.
Como se todas as minhas idades não fossem suficientes para entender a cor da nuvem. A dor da abelha que naufraga no mel. Ou o passeio impensado de um fio de cabelo. Como se todo o mistério da vida estive em meus dentes e estômago.
Eu comi tudo e nem vi o sabor que tem um dia bem pensado, um amor bem calculado ou um enterro bem planejado. Quer dizer que todas as folhas que ficam amarelas voltam ao caule antes de sentir saudade. Ou que todo o que se quer dizer é que não há mais palavras que digam o que não se sabe e que nunca será. E que todo dia acordado, não tem o gosto que deveria ter, nem a mesma janela com vista pro rio.
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