22 de fevereiro de 2024

Silêncio

Como confiar no silêncio?
Confio no meu escuro
Fruto maduro e escuso
Furo intruso e intenso
Fluxo imenso e difuso
Que vasculha, instaura
Âmago que permeia, restaura
Decanta e incendeia aura
Que fundifica a luz
Que o afeto traduz
Em ensimesmada cruz
Que hora marca, hora jorra
Nunca fraca, nunca joga
Pois tudo sabe
Ainda que tão pouco
Ainda que tão fundo
Mesmo que desabe
Mesmo que louco
Não é todo mundo
E faz sua anábase
Refaz seu moinho
Reformula a frase
Dirige seu próprio sonho
Ainda que devagarinho
Se olha risonho
Faz muitos caminhos
Ainda que sozinho
Se imagina bonito
Faz do samba infinito
Com mais de mil compassos
Pois não aceita mais escassos
Não acata mais incêndios
Não confia nos silêncios

Nenhum comentário:

Postar um comentário