19 de setembro de 2010

Primaveras Verão

Dos dias poucos que estive em mim, pude logo prever o amargo que os dentes tingiam meu pensamento. São ressentimentos que aprisionam minha mais bela rosa intocada. E que se desdobra ao vento como se brindasse o fim de nós.
Tinha um conto que me submetia ao frio da madrugada em que você me deu um aperto de mãos tristes. Mãos que não me viam cobertas pela luva da ingratidão. E de toda lentidão com que os momentos infelizes abruptamente subtraíram meus sóis. Um tijolo a menos no meu muro resvalando o céu.
Meu riso com defeito de ti era agora uma gota única e insistente de uma torneira incansável. Aberta assim no meio do nada, esvaindo minha sensação de não estar em lugar algum. Por falta de uma pedra, um martelo ou algo mais consistente. Um presente a nossa falta de sorte.
Eram quatro paredes pintadas a dedo e centímetros de solidão. Uma multidão de sentimentos que não consentiam. Uma reunião de vontades e conquistas que não se enfileiravam no tempo. Mas há tempos aprendiam a me guiar para fora de mim.
Como se o mundo todo fosse o suspiro mais breve de quem pisca um sono a mais quando se encontra quente nos braços de quem pensa amar. E o reconforto do mal estar de não estar só. E tomando toda a dor por lençol, pensar que o amor não passa de uma mancha de tinta na camisa surrada.
Tudo, pois, enquanto me vejo refletido na sombra redesenho meus passos para tentar ver quantos ângulos tenho para descrever sua ausência. Uma ânsia prevista e pensada para que a primavera possa ser a mesma da minha infância. E assim, já sábio e salvo, possa descobrir o que vem antes do verão e quem quer que seja o ser que me sacia. 

Nenhum comentário: